sexta-feira, 1 de julho de 2011

O dia que um marginal me abençoou

Esses dias estávamos entre amigos e conversando sobre um assalto que aconteceu e tudo mais. Não contei das minhas experiências, porque soaria em tom de deboche. Embora esta não fosse a intenção, eu não gostaria de passar essa impressão naquele momento em que todos estavam discutindo se reagiriam ou não. Uns disseram que pensavam que pudessem reagir, mas na hora ficaria travado, outros disseram que até reagiriam por conta da revolta. Eu não opinei.

Eu sou a pessoa mais azarada do mundo! E já fui assaltada três vezes, porém nenhum deles foi efetivado. Minha reação? Distração voluntária. Sou tão distraída que eu acho que se um dia eu for estuprada eu só descubro quando eu for parir e nem percebo a falta das regras durante os nove meses. Não me surpreenderia se o pai da criança ainda quisesse registrá u fío co memo nome du pai: 'Cleiosmar Xuasnéguer da Silva Junior'.

Meu primeiro assalto foi até engraçado. O cara disse algo pra minha mãe que eu não ouvi (novidade) e minha mãe como é gentil, parou e perguntou o que ele havia dito. Durante tal diálogo, eu já estava quase dobrando a esquina, quando ouvi minha mãe gritando 'Dá essa bolsa aquêêê!'. Então eu voltei, saimos correndo e fomos à delegacia. Detalhe nº1: conseguiram pegar os meliantes. Detalhe nº2: minha mãe estava vestindo uma saia, meia-calça preta, bota e uma blusinha um pouco decotada; eu com uma calça larda, um top e duas chuquinhas, ou seja, chegamos de veraneio vascaína e fiquei me sentindo meio parte baixa da Rua Augusta.

O segundo não teve tanta aventura. O terceiro foi épico!

Sou católica, mas sido a cultura judaica quando pesa no bolso. Eu ia muito à missa há um tempo, falando nisso, preciso voltar a ir. Mas voltando... Sempre ia às missas de domingo nos horários certinhos. Um dia vi que estava atrasada então pensei: 'vou de bicicleta!' E fui. Tranquei a SUPER BIKE na grade da igreja e fiquei do lado de fora. Não tinha mais lugar. E eu fiquei em pé ao lado de fora. Eu dava umas olhadinhas em meu super veículo e continuava com o olhar na missa. Durante tooodo aquele momento eu fazia os mesmos movimentos.

DE REPENTE... Eu vejo um cara mexendo na bicicleta e por conta da minha lerdeza e inocência, pensei: 'Eu acho que deve ter acontecido algo com a minha bicicleta vou ali ver' Eu fui. O cara que estava 'arrumando' minha bicicleta devia ter cerca de um metro e oitenta de altura, olhos verdes e estava com uma caixa de ferramentas na mão.

'Moço o que está acontecendo aí?'
(segura no guidão e olha atentamente para toda a bicicleta procurando o erro enquanto fala)

'Essa bicicleta é sua?'
(continua abaixado e olha para a moça com semblante surpreso)

'É, por que?'
(ela falou em um tom bravo que eu defino como imponente, afinal, aquilo não era só uma bicicleta, era uma semana de trabalho árduo para convencer clientes de que o solado da Nike era feita de couro de búfalo. Será?)

'Moça, se você me viu fazendo isto, você não é digna de ser furtada
(ele se levanta de vagar e aponta para o santo da fachada que está logo atrás acima de sua cabeça e seus olhos enchem-se de lágrimas e sua voz falha um pouco)

'Amém!'
(só quando ele disse a palavra 'furtada' que descobriu a façanha e percebeu que ele não era um bom homem, mas um marginal!)

'Você tem que entender que este é o meu trabalho.'
(ele passa por trás dela, destrói outra tranca e furta uma outra bicicleta)

'...'
(seus olhos arregalaram e ela pensa em diversas coisas que poderia dizer para ele não levar a outra bicicleta)

'Olha pros meus olhos.'
(ele pega na mão dela)

'...'
(ela segura a mão dele e não consegue dizer nada)

'Deus te abençoe.'
(ele saiu andando com a bicicleta alheia como se estivesse num passeio pelo parque)

'...'
(ela tremeu, correu com a bicicleta para o caminho oposto, óbvio, e uma lágrima caiu)

É até bonito, gente! Mas moral da história, vamos lá: não sejam lerdos, minha gente. Nem o seu assaltante vai aturar tal atitude. E uma homenagem minha ao grande jogo de domingo!

2 comentários:

João Batista disse...

Seria melhor a companheira trocar o nome do eventual estuprador, de
'Cleiosmar Xuasnéguer da Silva Junior', para Fulano de Tal, evitaria assim, nos tempos atuais, ser incursa na Lei
que pune, com penas de até cinco anos de reclusão, além das multas, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, de cor, etnia, ...
Lembre-se, o Sindicato Nacional dos Ativistas de Estupros - SINAATVAPRO está em alerta.

João Batista disse...

Carolina:
Ainda com relação ao Cleiosmar, você adorará esta entrevista com o Jô.
Abçs.

http://www.youtube.com/watch?v=3Aicn5En5Gc&feature=related