segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Onde você estava?

Há 10 anos acordava às 6h e me arrumava para ir à escola.

Há 10 anos eu fui à escola, mas fui dispensada pelos professores.

Há 10 anos eu achei que pudesse passar a manhã toda assistindo aos desenhos do SBT.

Há 10 anos os monstros maus que explodiam cidades se tornaram reais e explodiram cidades. Ou pelo menos parte delas.

Há 10 anos meus livros de história e geografia passaram a ser os jornais diários. Estudávamos Al Qaeda, terrorismos e os motivos dos ataques suicidas. Meu grupo teve que defender George W. Bush. Foi difícil encontrar material, mas alunos de oitava série sempre têm bons argumentos.

Há 10 anos eu confesso ter ficado com medo daqueles atentados.

Há 10 anos o medo deu lugar ao tédio sobre o marasmo jornalístico com a sua pauta que bombardeava os mesmos discursos.

Há 10 anos eu estava com 13 anos e morava em Pindamonhangaba onde moro ainda hoje. Não tinha grandes ambições. Não trabalhava, meus pais pagavam as minhas contas, meu sonho dourado era ser arquiteta e todos os dias aparecia com uma nova planta para os meus pais verificarem o projeto. Não tinha cachorros e acabara de me mudar para um outro bairro. Meus irmãos tinham 9 e 3 anos e meus pais também eram 10 anos mais novos.

Há 10 anos eu não tinha internet e nem ao menos sabia o que era um blog. Muito menos Orkut, Facebook, Twitter, LinkedIn, SlideShare, Flickr, Youtube... Eu era heavy-user de SkiFree e isto me divertia o bastante para esquecer que dia 11 de setembro não se comemora nada além de ser lembrado pelo atentado. Tem algum aniversariante por aí?

E você, onde estava há 10 anos?

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Namorando um amigo

Qual a diferença entre um amigo e um namorado?

Um amigo é aquele do qual você não tem tanto pudor para demonstrar sinceridade. Provavelmente ele vai entender quando disser algo sincero, afinal de contas ele é seu amigo acima de tudo. É ele que não vai rir da sua piada se ela não tiver sido engraçada, mas vai te dar um tapinha nas costas e dizer "continue tentando, um dia melhora, quem sabe..." Você certamente vai ficar sem graça nessa hora, mas você ri.

Um amigo é aquele cara que acha que você é tão da família que não liga com o fato de todos estarem na casa dele, inclusive você... menos ele. Um amigo não precisa de provas de amor, um amigo não precisa de ligações diárias. E mesmo sem a constante presença, eu sei que ele sempre estará ali, mesmo não estando ali. Se é que me entende.

Um amigo não tem a ambição de te levar para jantar no melhor restaurante da cidade, mesmo porque, nestes lugares vocês não poderão dar aquelas risadas altas que estão acostumados. Então vocês decidem ir a uma sorveteria, um barzinho ou sentar na calçada da sua casa para conversar durante horas sobre qualquer coisa, da qual nunca é realmente importante, mas será um dos melhores momentos de um final de semana. Ele acompanha suas ideias mirabolantes.

Saiba, que se seu amigo lhe manda uma mensagem de madrugada ou a qualquer instante para dizer que pensou em você, ele realmente pensou em você. Não faz parte do feitio de um amigo mandar mensagens todos os dias para desejar boa noite. Cansa! E apesar de respeitá-la, seu amigo jamais deixaria você ganhar no videogame só porque você é mulher. É player 1 contra player 2. Os controles e os sensores de calor ainda não conseguem identificar o feminino do masculino, desculpe.

Seu amigo será curto e grosso quando diz "mulher não entra no ensaio da minha banda". Você não liga, afinal, o momento mais lisérgico da banda é o resultado da psicodelia autista de um ensaio entre quatro paredes acústicas, um show alucinógeno sem precisar de Lucy's, mas de algumas doses de inspiração. Deixe para lá o ensaio.

As pessoas sempre determinam o sujeito das relações. O namorado. Aquele que ama, que dá boa noite, que tem ciúmes, que diz pensar em nós quando não estamos ao lado deles, que nos cobra pela falta de satisfação. Certamente seu amigo não vai dizer "amo você". Ele não precisa. Ele já lhe respeita e isso basta.

Um amigo valoriza sua presença e sua liberdade. Ele será a única pessoa que ficará num quarto sozinho com você apenas para lhe mostrar a coleção de guitarras e tocar cada uma delas usando todos os efeitos dos pedais que ele comprou um a um. E você será a única pessoa que terá a paciência para tentar entender o que cada um daqueles pedais fazem e admirar a cada acorde que aquele cara dá. Sim! Você se apaixona. Não pelo homem, mas pelo sujeito oculto: a amizade.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Despedidas

Nunca fui boa com despedidas. Ou eu choro demais, ou eu não choro nada pela pessoa não ter feito nenhuma diferença em minha vida. Já tiveram momentos em que numa despedida eu fingi estar triste, mas ao virar as costas eu ri. Era uma imensa felicidade. Sim, eu não gostava de você. Eu gargalhei.

Hoje eu estava endomingada. E descobri que além da despedida em si, existe também a sensação dela. O que não é nada agradável, mesmo porque, quando você diz tchau, adeus, até logo ou qualquer coisa do gênero você sabe que aquele é o momento da despedida. Então o tchau, o adeus e o até logo fazem sentido.

E agora eu estou sentada numa poltrona cinza, dentro de um cômodo um pouco bagunçado com os olhos cheios de lágrima, ouvindo o som da buzina de um trem que está passando logo ali. Agora eu estou sentindo a sensação de despedida, querendo abraçá-la, contar todas novidades, voltar rápido do trabalho para poder assistir tv com ela. Ao mesmo tempo não quero nada disso, porque sei que daqui a uma semana quando eu voltar direi "Oi!" apenas ao meu pai, a minha mãe e ao meu irmão. Ela já vai ter voltado para a terra dos sinos que falam.